Se tem um tema que me faz pensar constantemente é a liberdade. Mas ando pensando, particularmente, na liberdade que pais tem que dar aos seus filhos para serem eles mesmos e assumirem suas vidas. E isso não é nada fácil e falo por experiência própria.
E qual a nossa responsabilidade como pais? Falar para um recém nascido: “Não, não, não, nada de mamar de graça no peito de sua mãe, se vira!” ou para um filho adulto: “Nem vem que não tem seu tempo passou, amigão!”
Claro que não, liberdade exige autonomia e isso é um processo que vai desde o nascimento até a idade adulta para ser construído.
A certeza de um amor incondicional
Para desenvolver autonomia, é preciso ter referências que serão os pilares dessa construção da liberdade, e a maior delas é saber que se é amado incondicionalmente pelos pais. Amor cobra, mas não exclui; amor que pede perdão para ensinar a perdoar; amor que não generaliza atos em pessoas, por exemplo, “Suas notas foram muito ruins, você pode ir melhor.”, e não , “Você não vai ser nada na vida sendo burro assim.” Há muita gente adulta que é escrava de uma busca incessante de aceitação, por não ter certeza de ser amado, daí entram coisas como a bebida, as drogas, a necessidade de estar sempre na moda e a vida sexual precoce; neste caso, quantas meninas se sentem usadas quando descobrem que foram só um objeto de prazer para alguém que nem de longe estava pensando em romantismo como elas pensavam quando se entregavam.
A grande benção de um NÃO
Quantos adultos são intolerantes à frustração, fugindo a vida inteira de tudo que os coloca na parede, amizades, relacionamentos, carreiras, etc. , vão pulando de galho em galho achando que sempre o mundo conspira contra eles. Pois eu acredito que a falta de nãos desde pequenos é uma das grandes causas disto. A criança pede e os pais dão, a criança faz manha e os pais cedem, o adolescente apronta na escola e os pais brigam com os professores. Os pais estão sempre satisfazendo todas as vontades e caprichos dos filhos e, queiramos ou não, a vida não faz isso com ninguém e temos que vivê-la mesmo assim. Um não bem colocado é uma grande benção na construção da autonomia de um filho.
Joelho arranhado
As crianças precisam aprender que “ralar os joelhos” faz parte da vida. Se valorizarmos demais cada tropeço de nossos filhos. Protegendo-os de todas as infecções (físicas e psicológicas), não permitindo que eles se firam de vez em quando, será que quando adultos não ficarão esperando que a mamãe apareça com um merthiolate cada vez que a filhinha ou o filhinho se machucar? Isto também é válido nas amizades, nas primeiras paixões não correspondidas e no vestibular. Não podemos criar pessoas que acabem por serem vítimas delas mesmas, pois a vida não pode ser vivida sem seus arranhões.
A última instância
Mesmo quando damos boas referências como pais, vem a hora que eles descobrem que somos falíveis, que não temos uma força insuperável, ou mesmo não conseguimos viver tudo que o pregamos para eles. Também há momentos em que os pais não estarão mais lá, por morte ou abandono, e se fica sem ter a quem recorrer; nessas horas é que uma fé bem transmitida, desde pequenos, sustenta a pessoa e os mantém na construção e na vivência da liberdade.
E fé não se resume a levar os filhos na catequese aos 7 ou 8 anos, muito menos coloca-los em colégio religioso. Fé é dar exemplo de vida, é mostrar que há valores imutáveis, é sentir a alegria de nunca estar sozinho nesse mundo.
E por fim, quando eles assumirem suas vidas, estaremos lá nos valores que transmitimos e eles assumiram como seus. Estaremos lá quando um deles usar uma frase sua para ensinar seus filhos, quando estiverem ajoelhados diante de um sacrário, pedindo socorro para o Pai, pois assim viu seus pais fazerem ou na pior das hipóteses, estiverem tentando não repetir os seus erros como pais e como pessoas. Ainda assim eles estarão voando livres.